Roma Pereira

Por diversas vezes, partilhamos entre nós a enorme dificuldade que temos para encontrar, para descobrir um vinho diferente e que nos surpreenda. Ao penetrarmos pelas enormes entranhas da enolândia surgem vinhos, que apesar serem bem feitos e com poucos erros, são indiferenciados (não sei quantas vezes usei esta palavra nos últimos dias). Ao fim de um copo, de um trago, o ímpeto esmorece e o vinho fica de lado. Perdem-se euros desnecessariamente.
É motivo de regozijo (para mim) quando, por momentos, surge um nome que nunca ouvimos falar, que não sabemos quem é, nem de onde vem. A surpresa é maior quando o contacto é feito às cegas, sem qualquer marca exterior. Estamos despidos de qualquer preconceito, de qualquer ideia feita. Existe apenas o indivíduo, o copo e o vinho (sem rótulo).
A apresentação foi estabelecida de modo muito cordial, cheio de gestos surpreendentes (acho que vou-me esticar em comparações).
Aos primeiros goles, foi servida fruta bem preta. Apesar de doce e pecaminosa, mostrou muita subtileza. Parecia enfeitiçada. Depois abre-se uma arca, de madeira exótica, que lentamente largou aromas a especiaria. O cacau e baunilha libertaram-se, sem pressas. Criou-se em volta do copo um ambiente cheio de imagens orientais, luxuriantes, distantes do nosso (prosaico) mundo.
A complexidade de cheiros ia aumentando com flores que se colocaram defronte do nariz e da imaginação (que se pôs a ditar as regras). Alfazema, a rosa, a lavanda pareciam organizadas em vasos. O doce floral rodopiava por entre o doce da especiaria e da madeira. Os (meus) olhos esbugalhavam-se. Parecia que tudo tinha sido feito ao pormenor.
O paladar prendia-me. Mastigava-o lentamente, sem pressas. Sabia-me bem (Nem quis saber das opiniões contrárias. São deles). Flores, fruta, madeira (muito gulosa) e especiaria agarravam-se por todo o lado.
O voltar das costas fez-se com pena. A prova ainda estava longe de terminar. Outros perfilavam-se à espera de se apresentarem.
Solta a máscara que envolvia o vinho, revela-se ao mundo um tinto alentejano (2005), de Mora. Promete muito (uma aposta minha) e certamente não o deixarei fugir. Tenho na minha garrafeira muitos lugares vagos para preencher com vinhos que gosto.
O resto é (ou são?) histórias. Nota Pessoal: 17

Post Scriptum:
Reparem bem. Tem apenas 12,5% de graduação alcoólica.

Comentários

Anónimo disse…
Gostei bastante de ler a sua crítica sobre este vinho e muito especialmente os 12.5º. (Estou cansado de vinhos de 14.5º ou mesmo 16º, como um argentino que provei à uns tempos, que vinha 95 pontos de crítica de robert parker mas que me desagradou precisamente pelo teor alcólico).

Para finalizar a Pergunta: Qual o preço de orintação?

Cumprimentos
João Freitas
Anónimo disse…
Caro Rui,
é bom ver-te a provar o Roma Pereira. Também já me passou pelos lábios e gostei muito também. Foge bastante de alguma monotonia alentejana. E acho um vinho que se enquadra muito bem na mesa.

E os 12,5 espero que mantenham em futuras colheitas.

Boas provas!
Pingas no Copo disse…
Chapim, pessoalmente é um vinho fino.

Quanto ao preço, caro João Freitas, ele não foi divulgado.
Rui só me dás dores de cabeça, eu a não querer gastar dinheiro e agora metes um compadre meu com 17 ?
Isso é uma grande maldade.

Por outro lado, estou a ficar preocupado contigo, sei que andam aí umas viroses, mas andas a gostar muito das pingas do Alentejo.
Myla disse…
amanhã teremos uma reunião estilo t.s.v. - traga seu vinho - da SBAV. sociedade brasileira d amigos do vinho. será um encontro com quarenta apaixonados por vinho, rs.

gostaria d apresentar sua dica e suas impressões lá, se me permitir. darei-lhe o crédito, claro.

muito obrigada, abraços,

myla
Pingas no Copo disse…
Caro Copod3 pessoalmente, este Roma Pereira foi uma revelação (mas atenção, não foi nada consensual). Um vinho que gostei muito.
Sobre as minhas últimas investidas em vinhos alentejanos, não tinha reparado nisso. :)

Cara Myla pode apresentar, naturalmente, a minha dica. Os eno-blogs são uma cadeia de partilha cada vez maior.

Abraços para todos.
Anónimo disse…
Caro Pingus,
gostei de ler esta sua critica e já tinha ouvido falar neste vinho como algo diferente.

Finalmente encontrei-o à venda na Wine and Flavours em Telheiras. Lá estava a 22.80 euros. Foi o único sítio onde o vi.

Um abraço
Pingas no Copo disse…
Caro anónimo a 22.80€?? Caramba!

um abraço
Anónimo disse…
Parece-lhe um bom preço para o vinho em causa, amigo Pingus?

Cumprimentos,
Mario Cancela
Pingas no Copo disse…
Essa pergunta é muito dificil de responder caro Mário Cancela. Mas olhando para as mais variadas propostas que existem no mercado, parece-me que o preço tende um pouco para o "exagerado". É a minha visão como consumidor.
Não esqueçamos que falamos de um nome que entrou agora no mercado sem historial, sem qualquer referência.

Cumprimentos
Anónimo disse…
Já tive oportunidade de o provar entre amigos (leigos!) e a opinião geral foi de o Roma Pereira ter bastante qualidade.

Quanto ao preço, tenho impressão que na adega poderá ser comprado a cerca de 15 euros + IVA...
Anónimo disse…
Este vinho foi referido ontem à noite na Hora de Baco, e o preço referido foi precisamente esse de 22 €. É um bocado, não é? O problema é que só tem 14.000 garrafas de produção, e a intenção é estabilizar nas 20.000. Se a procura for elevada, o preço upa upa...